Foto: ilustrativa
De um lado, a Vigilância Sanitária, respaldada por lei estadual e
disposta a impedir o comércio da maionese preparada pelos comerciantes. Do
outro, o consumidor, decidido a não abrir mão do sabor do molho. E, no meio
dessa briga, o comerciante que, para cumprir a lei, desagrada à clientela.
A proibição foi determinada pela Secretaria de Estado de Saúde, em 23 de
junho de 2003, porém não era cumprida em Paraisópolis. Em 2010, o departamento
sanitário orientou os comerciantes sobre a proibição em Minas Gerais e riscos à
saúde, sem êxito. Em novembro de 2012 a lei finalmente passou a ser respeitada
contra a vontade do cliente e do proprietário.
De acordo com os técnicos de Vigilância Sanitária, Josy Cabral e Geraldo
Carlos Goulart, durante treinamento realizado no final do ano passado, todos
concordaram com a proibição da maionese. “Foram convidados para 26 comércios e
o comparecimento foi de 88%, sendo que os demais foram orientados posteriormente”.
Mas, na opinião dos comerciantes, não houve consenso, e sim uma imposição da
mudança.
Para Valdecir Carvalho, o Deci, que trabalha no ramo há 20 anos e sempre
preparou a maionese, o prejuízo com a lei já pode ser contabilizado. Em menos
de um mês, acredita que as vendas tenham diminuído 5%. Ele explica que conhece os
riscos de contaminação e garante que toma todos os cuidados. “Não concordo com
a lei, quero sempre o melhor para o meu cliente e eles querem a maionese
caseira”, conta ele.
Para o comerciante, uma opção seria permitir o uso e notificar o
consumidor dos riscos à saúde. “O comércio vende cigarro e adverte quanto aos
perigos. Com a maionese poderia ser feito a mesma coisa”, comenta.
Ricardo Ribeiro (Parió), diz estar triste com a decisão. “Sentimos muito
de ver cliente desistir da compra por não ter a maionese. Isso porque fazemos a
maionese há 20 anos e nunca tivemos problemas”, explica. Para ele, a qualidade
é essencial. “Nosso cliente come o que minha família come”, afirma.
Luiz Celso Gradim foi avisado da proibição em outubro do ano passado e desde então as vendas diminuíram. Ele trabalha com lanches e prepara maionese caseira há 25 anos. Celso acredita que a medida é exagerada. “É mais fácil proibir que fiscalizar”, enfatiza.
Luiz Celso Gradim foi avisado da proibição em outubro do ano passado e desde então as vendas diminuíram. Ele trabalha com lanches e prepara maionese caseira há 25 anos. Celso acredita que a medida é exagerada. “É mais fácil proibir que fiscalizar”, enfatiza.
Os clientes também não se acostumaram com a ideia e questionam os donos
de trailers e lanchonetes. Para Douglas Mendes, proibir é tirar o direito de
escolha das pessoas. “Temos o livre arbítrio e cada um deve escolher se quer
correr o risco ou não”.
A maionese caseira feita com leite no lugar dos ovos também está
descartada. “As principais fontes de contaminação por Salmonella são ovos,
carne, leite e produtos lácteos. Portanto o risco de contaminação se iguala à
preparada com ovos”, afirma Josy.
Foi registrado em Paraisópolis um caso de Salmonella, porém, a
Vigilância não foi notificada pelo hospital. “Ficamos sabendo de maneira
informal e a causa foi a maionese”, explica ela. Quem contraiu a doença foi
Pedro Bauru. Ele afirma que a causa não foi maionese caseira. “Comi ovo caipira
com comida. O ovo era novo e não tinha aparência, gosto e nem cheiro ruins.
Passei mal no mesmo dia”.
Quem insistir na comercialização da maionese caseira estará sujeito às
penalidades que variam desde apreensão do produto, multa, recolhimento do
alvará sanitário e até interdição do estabelecimento. A multa varia de acordo
com a gravidade da infração e será recolhida aos cofres do Município. O valor
vai de R$ 1.500,96 até R$ 52.533,60, podendo ser cobrada em dobro em caso de
reincidência.
A permissão ou não para oferecer aos clientes o produto é estabelecida
pelo Governo do Estado, e não pelo Município. A função da Vigilância Sanitária
é apenas regularizar estabelecimentos e prevenir a ocorrência de agravos à
saúde, sendo a orientação e educação em saúde suas principais ferramentas.
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